JM
Cunha Santos
O
juiz O
réu
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O
Maranhão acaba de se tornar palco de um dos fatos mais incríveis da história
das eleições neste país. É o enredo mais perfeito para um romance de
Dostoievsky ou Franz Kafka. Talvez até eu o escreva. Jamais o juiz poderia
imaginar que o homem sentado à sua frente naquele dia, acusado pelo Ministério
Público de crime de falsidade ideológica e formação de quadrilha, seria num
futuro bem próximo seu principal adversário em uma disputa eleitoral pelo
governo do Maranhão.
Não
me lembro que algo pelo menos parecido já tenha acontecido neste país. Sem
receber um único voto, o réu se tornaria senador da República. Sofreria um
acidente e, no leito de morte, uma visão de outro mundo, ou de outro submundo,
lhe encarregaria de enfrentar o juiz na próxima eleição. Antes, o réu seria
condenado por outro juiz a dois anos de prisão e a pena prescreveria, como se
forças subterrâneas o protegessem para ser candidato numa eleição que pelo seu
partido ninguém queria disputar. O que dá à novela um gosto irresistível de filme
de terror.
Essa
história das mil e uma noites é verdadeira e aconteceu no Maranhão. O juiz, quem
sabe, lamenta não ter tido a oportunidade de condenar o réu, talvez porque não
houvesse base legal naquele momento, mas ele acabaria condenado. O réu sente
com sua candidatura o gosto da vingança contra o juiz que o interrogou. Vilão
da história, vê nessa disputa a oportunidade de mostrar que o crime compensa e
desafiar a Justiça que tanto o perseguiu.
Nesse
meio tempo o réu fica rico, torna-se dono de uma emissora de televisão e
durante um debate o juiz cala o Estado inteiro ao revelar que conduziu o
processo e interrogou seu adversário por formação de quadrilha e falsidade
ideológica. Esta é uma cena digna de novela da Globo, mas o debate foi na TV
Difusora, de propriedade de Edinho Lobão, candidato e réu com processo no
Supremo Tribunal Federal.
Fico
me perguntando se acaso alguém contasse essa história em outros países
democráticos, como o Estados Unidos, por exemplo, alguém acreditaria. E ao
mesmo tempo me pergunto:
Alguém
sabe quem, na verdade, é Edinho Lobão?
Esta é uma boa pergunta. Como é q alguém é senador sem ter recebido um único voto?
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