Editorial
JP, 2 de abril
Há
crimes que são repugnantes por sua natureza, pelo grau de crueldade com que são
aplicados; outros crimes são repugnantes em virtude das pessoas contra quem são
praticados e outros, ainda, pelas razões torpes que os motivam. Roubar merenda
de crianças desnutridas ou assaltar de hospitais aparelhos e equipamentos que
poderiam aliviar muitas dores e salvar muitas vidas são crimes que concentram
essas três opções de repugnância. São os crimes cometidos pelos agiotas presos
recentemente pela Polícia Civil do Maranhão.
De
igual modo existem perdões repugnantes, em geral pagos a custo de muito
dinheiro, prestígio e outras beneficências como apoio eleitoral. A origem
dessas indulgências está lá na Idade Média com a Taxa Camarae criada pelo Papa
Leão X. O Papa declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou
leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado uma ou mais
pessoas, desde que fossem generosos com os cofres papais. Transcrevemos aqui
algumas dessas aberrações, apenas a título de comparação:
1
– A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crime de rapina, roubo
ou incêndio custará ao culpado 131 libras e 7 soldos.
2
– A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada
em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.
E
sabemos que no Maranhão muitos criminosos jamais foram punidos em virtude de
sua densidade eleitoral pessoal. A Taxa Camarae do modelo político sarneisista
permitiu que as punições de muitos crimes repugnantes fossem removíveis, se não
a dinheiro, a votos ou apoio político incondicional. De punir corrupção e
agiotagem, nem se fala. E sem sombra de dúvida que isso contribuiu para a
manutenção desse longo período de poder que empobreceu o Maranhão.
Não
se explica que alguém que viveu do salário de prefeita, tivesse sob sua guarda
20 carros de luxo, além de outros bens. Não se explica que uma quadrilha como
essa tenha agido durante tanto tempo sem ser incomodada pelo Estado. Não se
explica que tendo sido essa quadrilha conhecida ainda quando a Secretaria de
Segurança investigava o assassinato de Décio Sá, permanecessem todos livres,
agindo e agiotando nos cofres públicos do Estado.
Mas
o modelo político adotado no Maranhão, hoje, é outro. A determinação do
governador Flávio Dino de combater a corrupção é indiscutível e insofismável.
Por isso, esses agiotas estão e outros ainda irão parar na cadeia. Está no ar,
nas casas, em todos os discursos, esse novo momento em que crianças não mais
morrerão de fome para enriquecer bandidos, em que hospitais não mais serão
desaparelhados pela corrupção, em que doentes não mais morrerão à míngua apenas
porque este ou aquele precisa se eleger.
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