domingo, 24 de março de 2013

Mulherofóbicos

Informe JP, 24 de março

Se o vocábulo não existia, está criado. São pessoas que, independente da orientação sexual, não gostam de mulheres ou acham que o Criador as trouxe ao mundo como mero acessório do homem, apenas para dignificar ou dar brilho e beleza à perpetuação da espécie. Para estes, a mulher deve permanecer escravizada às decisões masculinas e entre estes há os que vão mais longe, achando que o corpo delas é imoral e deve estar coberto da cabeça aos pés, como os fundamentalistas de Maomé.
Frases se repetem: “Lugar de mulher é na beira do fogão e no tanque de lavar roupas”. “O grande Movimento de mulheres ainda é o dos quadris”. “A mulher é um animal de cabelos longos e idéias curtas” e por aí vai. Preconceito e medo, talvez mais medo que preconceito, orientam essa fobia, ao contrário do que muitos pensam, agravada nos tempos modernos em que, no caminho da luta pela liberdade, as mulheres são maioria nas universidades, ocupam a maioria dos empregos, tem vagas nos parlamentos, são chefes de homens nas repartições públicas, executivas nos empreendimentos privados, dominam espaços antes exclusivos como a literatura e a poesia e em grande parte já não dependem dos homens para criar, educar e sustentar os filhos.
A indisfarçável moral burguesa do século 21 fez da mulher esse animal assustador, com brilho intelectual próprio, com opinião própria, que não aceita imposições e a reação do Macho Alfa foi violenta: uma sangueira de sopapos, equimoses, luxações, lesões corporais, pontapés, tiros e facadas contra a mulher nos lares brasileiros humilha a condição humana.
E é a Assembléia Legislativa do Maranhão, hoje, a Casa de Governo onde repercute mais negativamente a maior ousadia feminina. Os homens descobriram que também a mulher é um animal político, em todas as suas versões aristotélicas. E essa condição está interferindo para que ali não se instale uma Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a violência contra a mulher. Eles temem que presidindo uma mulher essa Comissão, a deputada Eliziane Gama, torne-se ela mais tarde um empecilho às pretensões eleitorais do governo, uma força de oposição que não gostariam de enfrentar.
É um retrocesso monumental, no caráter político e humano de todas as reivindicações do mundo moderno. Uma eleição não pode ser mais importante que a evidência de todas as agressões covardes, aos milhões, que se perpetram nos lares do país; que a oportunidade de punir uma violência histórica, de natureza física e psicológica que, além de tudo, embrutece os filhos, criando bolsões de ódio, fúria e desagregação incontroláveis.  
Imaginem que no Maranhão e somente no Maranhão uma CPI da Violência Contra a Mulher pode ter como presidente e relator dois homens, o que em outro estágio poderia até ser um sinal de evolução. Mas sabemos que não é assim. São elas que estão apanhando e são os homens que estão batendo.

Um comentário: